terça-feira, 30 de junho de 2015

PENSAMENTOS FORTÚITOS SOBRE A TRINDADE

O que mais chama a atenção da narração do Evangelho é a doutrina da divindade de Jesus Cristo e o valor de sua obra dirigida pelo Pai. "A humanidade não conhece o Pai, senão o Filho".

A natureza é um livro riquíssimo e precioso, mas não é o bastante para o homem conhecer a Deus. “Os céus proclamam a glória de Deus, e o firmamento anuncia as obras de suas mãos” (Salmo 19.1). Foi preciso que o próprio Deus falasse ao homem em sua própria linguagem e lhe manifestasse de um modo mais positivo o seu amor imenso.

Os Evangelhos nos dizem em todas as suas doutrinas, que Jesus Cristo é Deus, e não há como contestar. Jesus é o nosso Mestre, o nosso Guia e o nosso Salvador. Todas as obras que Jesus fez, relatados nos Evangelhos, não são obras de um homem comum, mas de um Deus.

O incrédulo não compreende e não reconhece a divindade de Jesus, muito mais por temer a sua pureza doutrinária do que pela importância de suas próprias argumentações e ensinos contrários. O bem é sempre odiado pelo mal. O Evangelho exalta a Deus e abate o homem arrogante.

Era a vontade do Pai, Todo Poderoso, que seu Filho Santo Jesus Cristo morresse a morte de cruz, para que o pecador pudesse ser levantado do abatimento em que se encontrava.

O grande filósofo Sócrates foi obrigado a beber a mortal cicuta, mostrando a sua grandeza de espírito diante dos seus algozes, levantando assim a bandeira da independência de espírito, e, Platão, o seu discípulo não menos famoso, arriscou a sua vida propagando os ensinos do seu mestre, arriscando a ter o mesmo fim do de Sócrates.

Nem Sócrates e nem Platão, nem outros assim como eles, podem ser comparados ao Mestre do Gólgota, que nos revelou o Pai e nos fez participantes do Espírito e da graça infinita da Trindade, manifestando-nos Deus em seu tríplice aspecto.

Primeiro, como Deus criador invencível e de infinito poder; segundo, como Deus manifestado em carne, que pela morte na cruz garantiu a salvação ao pecador perdido, que arrependido dos seus pecados, ouve o chamado do Senhor para a salvação de sua alma; terceiro, como Deus Espírito Santo, é o guia invisível e permanente do cristão.

Vemos o Deus e Pai em Sua magna criação, assim como diz o salmo citado, e a prova disso estar o verdor dos campos, matizados de flores, contratado com o majestoso azul do firmamento, com suas luzes estelares no majestoso oceano celestial. A natureza não cessa de anunciar as grandezas de Deus, de proclamar as glórias do Criador, todas as coisas criadas e sustentadas pelo Senhor, proclamam a Sua majestade, bradando incessantemente:

“...Grandes e admiráveis são as tuas obras, Senhor Deus, Todo-Poderoso! Justos e verdadeiros são os teus caminhos, ó Rei das nações! Quem não temerá e não glorificará o teu nome, ó Senhor? Pois só tu és Santo; por isso, todas as nações virão e adorarão diante de ti, porque os teus atos de justiça se fizeram manifestos”. (Apoc. 15. 3,4).


         Nós podemos entender o Deus Espírito Santo, na parte moral dessa mesma criação, e que assume seu verdadeiro aspecto, na influência divina que exerce nos homens, nas mentes inteligentes da terra, revelando-lhes o bem, encaminhando-os pelas sendas do dever cristão e ensinando-lhes a única estrada que conduz às glórias eternas.

O Deus-homem, vemos revelado na pessoa do Senhor Jesus Cristo. Nele vibram com as notas altissonantes, as mais nobres e sensíveis fibras do amor pela humanidade decaída. Jesus Cristo é a manifestação da voz de Deus, Ele é a verdade puríssima, tal qual a gravou Deus na consciência de seus filhos, e que deve servir de norma e exemplo ao gênero humano a quem veio libertar do jugo do mal.

A trindade não é produto de superstição ou de engano, não é resultado de combinação de fatos demonstrados, onde não cabe a mínima dúvida e em que não pode haver mistério. Cristo e os seus apóstolos quando ensinando a doutrina da trindade, não o fizeram por seguir as concepções do paganismo e muito menos por servilismo às antigas tradições; eles pregaram essa doutrina pela força indiscutível de uma verdade palpável para os que conhecem a Deus.

segunda-feira, 22 de junho de 2015

CRENTES INTOLERANTES!





By

Rev. João d'Eça



O autor é Ministro Presbiteriano, Mestre em Teologia Histórica pelo 
Centro Presbiteriano de Pós-Graduação, Andrew Jumper CPAJ (SP)




A "intolerância" dos cristãos é o resultado direto dos ensinamentos de Seu Senhor Jesus Cristo, que, hoje, poderia ser descrito como uma das pessoas mais "intolerantes" que já viveu.

Introdução:

Nas últimas três semanas os cristãos, conhecidos também como: “crentes”, “evangélicos”, “protestantes” e outros rótulos, tem sido acusados de intolerância religiosa, porque não aceitam os outros grupos religiosos como iguais. Mas como podemos tratar como iguais, aqueles que são total e completamente diferentes?

Os cristãos são “intolerantes” porque eles tentam obedecer às palavras de Jesus Cristo, dizendo às outras pessoas como elas devem viver para agradar a Deus, segundo a Sagrada Escritura, e como elas devem crer em Deus, segundo as Escrituras.

Assim os cristãos são rotulados de “intolerantes” pelo simples fato de testemunharem zelosamente sobre a sua fé, conforme ensino claro das Sagradas Escrituras. Embora as ações dos cristãos sejam muitas vezes interpretadas como “intolerância”, a principal razão por que os cristãos são vistos como “intolerantes” é devido a definição de “politicamente correto” para a tolerância, que mudou nos últimos trinta anos.

Uma coisa notável sobre a intolerância, é que aqueles que dizem que nós, os crentes somos intolerantes e que por isso não devemos expressar nossas crenças religiosas, são exatamente aqueles que realmente se encaixam na definição de intolerantes. 

Tolerância X Verdade

Tolerância não significa que nós aceitamos automaticamente as crenças dos outros que não se identificam como cristãos, como sendo crenças verdadeiras. 

Contrariamente à crença popular, as religiões não ensinam as mesmas coisas, e, por isso, elas não podem ser todas verdadeiras. Diante de pressupostos que se excluem, todos não podem estar corretos. Crer em alguma coisa, não faz automaticamente com que essa crença seja verdadeira. Quem define se é verdadeira ou não são as Escrituras Sagradas hebraico-gregas, ai já percebemos a exclusividade do cristianismo, portanto. A sua “intolerância”. A verdade não pode ser sacrificada no altar de tolerância. Nas sábias palavras do autor das Crônicas de Nárnia: "O cristianismo, se for falso, não tem valor; se for verdadeiro, tem valor infinito. A única coisa que lhe é impossível é ser "mais ou menos importante" (C.S.Lewis). Tolerância verdadeira é respeitar as outras correntes de crenças, mas não é indiferença para com a verdade. 

O cristianismo é o exemplo principal pelo qual todas as religiões não podem ser verdadeiras. De todas as outras religiões do mundo, somente o cristianismo, ensina que uma pessoa pode se tornar aceitável a Deus com base em suas ações na vida. Em contraste, o cristianismo ensina que nenhuma pessoa, não importa o que eles façam, pode se tornar aceitável a Deus através de suas próprias ações. 

No cristianismo, a aceitação por Deus está baseada na obra de Redenção realizada por Jesus Cristo na cruz, através da fé no Seu sacrifício vicário que nos torna aceitáveis a Deus. Portanto, o Cristianismo e as outras religiões, não podem ser todas elas simultaneamente verdadeiras, pois elas ensinam ideias opostas sobre como se tornar aceitável diante de Deus. 

Um cristão não pode aceitar outros sistemas de crenças como sendo verdadeiros e ainda manter o seu próprio sistema de crenças, uma vez que são totalmente contraditórios e opostos entre si.

Os cristãos são na maioria das vezes tidos por "intolerantes" quando eles se recusam a aceitar os "estilos de vida alternativos", como por exemplo a liberação das drogas, a liberação sexual ou o comportamento homossexual. Mais uma vez, este é um uso indevido da palavra "intolerante". Tolerância não requer a aceitação de todas as ideias como sendo verdadeiras, mas apenas o respeito a quem decide viver por esses estilos de vida alternativos, mas que não podem viver desse modo na vida cristã, porque contradiz a verdade da Escritura Sagrada, e ninguém nesse mundo pode mudar isso.

E os pseudos intelectuais de esquerda e professores de sociologia da USP, que dizem que os cristãos não devem expressar suas crenças publicamente, são realmente os que são os verdadeiros intolerantes, uma vez que eles não estão dispostos a conceder igualdade de liberdade de expressão às crenças bíblico-cristãs e ainda ousam blasfemamente, a propor a extinção da Escritura, ou quando menos, a sua leitura alegórica ou metafórica.


Jesus era “intolerante”

A suposta “intolerância” dos crentes é o resultado direto dos ensinamentos de seu Senhor, Jesus Cristo, que, se estivesse aqui na terra hoje, poderia ser descrita como uma das pessoas mais "intolerantes" da terra. Embora Jesus tratasse bem todos os tipos de pessoas, Ele não era "tolerante" com os seus "estilos de vida alternativos". Jesus confrontou diretamente o comportamento imoral, e ainda exortava as pessoas para pararem de praticar o seu comportamento pecaminoso. 

Além disso, Jesus deu ordens a todos os seus seguidores em todas as geografias e em todos os tempos, a "fazei discípulos de todas as nações ... ensinando-os a observar tudo o que vos ordenei" (Mt. 28. 18-20) e, "pregar o evangelho a toda criatura" (Marcos 16.15). 

Jesus não diz nada a se aceitar outras religiões como sendo verdadeiras. Na verdade, Ele fez uma das declarações mais "intolerantes" que qualquer líder religioso já fez. Jesus disse: "Eu sou o caminho, e a verdade, e a vida; ninguém vem ao Pai, senão por mim." (João 14: 6).

Aqui novamente recorro a C.S. Lewis. Em seu livro Mero Cristianismo, ele escreve o seguinte:

Tento aqui impedir que alguém diga a grande tolice que sempre dizem sobre Ele [Jesus Cristo]: ‘Estou pronto a aceitar Jesus como um grande mestre em moral, mas não aceito sua afirmação de ser ele Deus.’ Isto é exatamente a única coisa que não devemos dizer. Um homem que foi simplesmente homem, dizendo o tipo de coisa que Jesus disse, não seria um grande mestre em moral. Poderia ser um lunático, no mesmo nível de um que afirma ser um ovo pochê, ou mais, poderia ser o próprio Demônio dos Infernos. Você decide. Ou este homem foi, e é, o Filho de Deus, ou é então um louco, ou coisa pior... Você pode achar que ele é tolo, pode cuspir nele ou matá-lo como um demônio; ou você pode cair a seus pés e chamá-lo Senhor e Deus. Mas não vamos vir com aquela bobagem de que ele foi um grande mestre aqui na terra. Ele não nos deixou esta opção em aberto. Ele não teve esta intenção.

Esta declaração só revela que todas as outras religiões e ideias religiosas não podem ser verdadeiras. Nenhuma outra religião se não o cristianismo, afirma que Jesus é o único caminho para Deus. Portanto, ou Jesus estava dizendo a verdade e Ele é o único caminho para Deus ou Ele era um mentiroso e um falso profeta.

Portanto, se isso é ser intolerante, não me importo, podem dizer que eu sou intolerante.


Conclusão:

Os cristãos, crentes, evangélicos, protestantes, ou seja lá que rótulo nos derem, em seu afã de seguir os mandamentos do seu Senhor, podem parecer excessivos e preconceituosos no seu entusiasmo. No entanto, na crença de que Jesus é o único caminho para Deus, queremos que todas as possam entender suas escolhas e as consequências dessas escolhas.

O amor exige que nós compartilhemos a mensagem do Evangelho (As Boas Novas) de Jesus Cristo. A boa notícia é que todas as pessoas podem entrar em um relacionamento pessoal com o Deus e Criador do universo através da fé em Jesus Cristo.

"Porque Deus amou o mundo, que deu o seu Filho unigênito, para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna."


(João 3:16)

terça-feira, 16 de junho de 2015

FREQUENCIA AOS CULTOS: DEVER DE TODO CRENTE

Não deixemos de congregar-nos, como é costume de alguns; antes, façamos admoestações e tanto mais quanto vedes que o Dia se aproxima.
(Hb. 10.25)

Como é triste ver que os crentes, lavados e remidos pelo precioso sangue de nosso Senhor Jesus Cristo estão desprezando os cultos, sem motivos que os justifique.

Enquanto muitos outros crentes correm felizes para os encontros semanais de adoração ao Senhor, esses outros ficam em casa, preguiçosamente, dando mau testemunho de sua fé, pecando e fazendo pecar a outros irmãos.

Enquanto em muitos lugares do país, muitos crentes suspiram pela bendita comunhão dos irmãos, os crentes frios se deixam ficar na indolência, esquecidos do crime que estão cometendo diante do trono de Deus.

As pessoas mundanas buscam com entusiasmo as suas reuniões, políticas, literárias, científicas ou ainda, simples diversão ou suas festas, enquanto que alguns crentes, herdeiros das ricas promessas de Deus, esquecem de seus deveres, não cumprem com a sua obrigação assistindo aos cultos em que se louva o nome de Deus.

A carta aos hebreus 11.37, 38, nos diz:

Foram apedrejados, provados, serrados pelo meio, mortos a fio de espada; andaram peregrinos, vestidos de peles de ovelhas e de cabras, necessitados, afligidos, maltratados (homens dos quais o mundo não era digno), errantes pelos desertos, pelos montes, pelas covas, pelos antros da terra.

Nós pelo contrário, temos liberdade; podemos de portas abertas cultuar e orar ao Nosso Pai do Céu; ninguém nos oprime. Muitos estão abusando da sua liberdade, negligenciando os ricos dons de Deus, negligenciando os seus deveres sagrados.

Somos crentes e temos a responsabilidade de mostrarmos ao mundo a nossa dedicação pelas coisas santas. Devemos fazer a nossa luz brilhar diante dos homens, para que eles glorifiquem o nome do nosso Pai, que está nos céus. Temos a responsabilidade de dar ao mundo a razão da nossa fé: Sejamos afeitos aos nossos deveres, dedicados, constantes, sinceros, anunciando o Nome que está sobre todo nome aos nossos parentes e vizinhos descrentes que vivem nas trevas do pecado.

Jesus Cristo disse em Mateus 10.32, 33:

Portanto, todo aquele que me confessar diante dos homens, também eu o confessarei diante do meu Pai, que está nos céus; mas aquele que me negar diante dos homens, também eu o negarei diante de meu Pai, que está nos céus.

O fato de cultuarmos a Deus com os irmãos, em comunhão, é um modo eloquente de confessar o nome de Deus. O profeta do Apocalipse, João, diz em Ap. 4.10, 11:

Os vinte e quatro anciãos prostrar-se-ão diante daquele que se encontra sentado no trono, adorarão o que vive pelos séculos dos séculos e depositarão as suas coroas diante do trono proclamando: Tu és digno, Senhor e Deus nosso, de receber a glória, a honra e o poder, porque todas as coisas tu criaste, sim, por causa da tua vontade vieram a existir e foram criadas.

Aquilo que produz júbilo, entusiasmo, alegria imensa nos céus, não nos encherá de gozo, não deverá ser o nosso maior contentamento?

Irmãos meditem no que vocês estão fazendo. Vocês estão negando o nome de Cristo se não cultuarem em comunhão com os irmãos, ao Senhor. Como podem negligenciar tamanho privilégio? Como podem não se sentirem satisfeitos em cumprir com tão honroso dever? Que exemplo vocês estão dando aos seus filhos?


Se vocês prometeram educar os seus filhos no “amor e no temor do Senhor”, se vocês prometeram livrá-los das más companhias, se prometeram orar com e por eles, se prometeram ensiná-los as Sagradas Escrituras, como podem, diante do trono de Deus, negligenciar as suas responsabilidades?



O autor é pastor presbiteriano, e mestre em Teologia Histórica pelo Centro Presbiteriano de Pós-Graduação Andrew Jumper.

domingo, 14 de junho de 2015

JEAN BARBEVILLE DA NORMANDIA – MARTIRIZADO EM PARIS

Baseado em Jean Crespin

Barbeville era oficial de pedreiro, já idoso, e, voltando de Genebra, quis instruir os seus vizinhos nos princípios do Evangelho, porém foi descoberto e acusado por eles, e por isso feito prisioneiro.

A princípio o pobre homem enfraqueceu, negando as suas relações com as outras pessoas acusadas. Foi desleal para com algumas pessoas a quem negou conhecer para preservara sua vida. Num lance de desespero, juntando-se com outros detentos, tentou contra a vida do carcereiro, porém foi severamente punido.

Depois desses acontecimentos ele foi colocado numa cela com Jean Morel[1] que o exortou através da Palavra de Deus e Barbeville foi tocado tão profundamente que reconheceu o seu pecado a ponto de chorar e a gemer amargamente. Pediu perdão ao carcereiro, decidiu mudar o seu comportamento e a retratar-se de tudo o que havia dito contra Deus.

Antes da sua conversão, quando era levado a presença dos juízes que o julgavam, diz ele que era paralisado de medo e continuamente blasfemava, porém depois de ter sido alvo da graça e da misericórdia de Deus, ele apresentou-se aos magistrados com segurança e coragem, afirmando ser um adorador de um único Deus e Senhor e que renunciava e se arrependia de ter adorado os ídolos e a adoração dos santos e da virgem Maria que outras pessoas lhe havia apresentado. Isso aconteceu no dia 16 ou 17 de janeiro de 1559.

Nos dias que se seguiram, ele foi levado à presença dos juízes eclesiásticos que diziam que ele estava preso porque havia comparado os padres a “saltimbancos vestidos de amarelo, verde, vermelho e outras cores”, ele respondeu:

Na verdade tenho dito sim, não me arrependo, e se me interrogarem continuarei dizendo e direi muito mais ainda.

Os juízes ficaram admirados da mudança ocorrida na vida de Barbeville e da constância da sua nova fé. No dia 18 de fevereiro daquele ano, ele foi levado ao Supremo Tribunal apelando aos juízes eclesiásticos, e no mesmo dia foi apresentado aos da Câmara Maior, e fez a seguinte confissão escrita de próprio punho: “Depois que prestei juramento e disse meu nome, país e residência, fui interrogado porque havia apelado.”

Resposta: “Por causa da dilatada prisão nos cárceres, nos quais o juiz eclesiástico me tem detido por espaço de nove meses sem me dar nem direitos nem justiça.”

Pergunta: Por que?

Resposta: Por ter declarado os mandamentos de Deus a um vizinho meu, e o abuso dos mandamentos dos homens.

Pergunta: Quanto tempo faz que não vais à missa?

Resposta: Fui no dia da páscoa; porém Deus quis que caísse uma estante do coro sobre a perna e fiquei ferido; retirei-me e desgostei muito de ter ido ali, por causa da grande idolatria que nela presenciei.

Pergunta: Que idolatria?

Resposta: A gente prostrava-se diante de ídolos e os adorava.

Pergunta: Então não se deve adorar a Deus mediante as imagens?

Resposta: Não, pois está escrito nos Atos dos Apóstolos17.24 que “Deus não habita em templos feitos por mãos humanas”. E a proibição está expressa em Exodo 20.

Pergunta: Onde aprendeste isso?

Resposta: Na Sagrada Escritura.

Pergunta: Ela está em latim. Sabes latim?

Resposta: Não; mas a tenho lido em francês.

Pergunta: Foste às Assembléias que são feitas em Moutfacod e pelas casas?

Resposta: Não; porém quem me dera que eu pudesse ter ido para ouvir a Palavra de Deus.

Pergunta: Foste a Genebra?

Resposta: Sim, oito dias somente, e ali trabalhei pelo meu ofício. E voltei para levar meu filho.”

Depois desse interrogatório ele foi levado à entrada do cartório civil do Supremo Tribunal, e (como depois soubemos por fiéis testemunhas), ali foi interrogado por vários meirinhos e contínuos do cartório, como ele sabia o que dizia, visto ser pedreiro, e que o Santo Espírito não descia no coche de um pedreiro.

Em resposta, ele recitou este versículo do Salmo 15.7: “bendigo ao Senhor, que me aconselha; pois até durante a noite o meu coração me ensina.”

Depois disto foi levado ao lugar onde estavam esperando os presos que eram mandados subir para serem interrogados, ali ele foi interrogado por quatro conselheiros sobre o sacramento da eucaristia; eles porém, não eram mandados pelo tribunal para este fim.

Ele respondeu que Ceia ministrada segundo a instituição de Jesus Cristo, ele comungava o corpo e sangue de Jesus Cristo pela fé, e não de um modo carnal: pois tendo Jesus subido aos Céus não descerá de lá senão quando vier para julgar os vivos e os mortos.

Um dos tais conselheiros, zombando, acrescentou: “Que subiu aos céus” e puxou a escada que estava atrás dele”.

Neste dia a sua apelação foi anulada e pouco depois ele foi reconduzido ao juiz eclesiástico para fazer confissão de sua fé.

Ai teve debates iguais aos primeiros sobre a disputa dos sacramentos e outros pontos, e os sustentou de tal modo que foi declarado herege e promotor de divisão.

Quando foi interrogado sobre a missa ele disse que era uma

“mercadoria falsificada, que nada valia, e que era a prostituta sentada sobre a grande Besta, da qual se trata no Apocalipse, que era a mãe das abominações, com a qual os reis e príncipes tinham se corrompido, e estavam embriagados pela sua bebida: que era a sua abominação descrita pelo profeta Daniel; enfim, que era uma planta que não tinha sido plantada pelo pai Celeste, e portanto em pouco tempo seria arrancada e atirada ao fogo.”

Falando do papa, ele comparava o estado da sua vida com a de Jesus Cristo: “Jesus Cristo, dizia ele, foi coroado com uma coroa de espinhos, mas o papa é coroado com três coroas preciosas. Jesus Cristo lavou os pés de seus apóstolos; mas o papa manda beijar as suas sandálias”. E assim por diante fazia os contrastes de Jesus Cristo com o papa para mostrar que este era realmente o anti-Cristo.

Se lhe ofendiam dizendo ser um ele um burro e que “não poderia conhecer as Sagradas Escrituras”, ele respondia:

Pois bem, aceitem que eu não sou mais que um burro! Porém vocês nunca leram que Deus abriu a boca da burra do profeta Balaão, que reclamou do profeta que a espancava, ele que queria profetizar mentiras contra o povo de Deus? “Se Deus abriu a boca de um Jumenta, vocês se admiram que ele abra a minha boca para falar contra as falsidades e mentiras que vocês proferem contra o povo de Deus? E assim como a burra falou por causa do pesado fardo que o falso profeta a fez carregar, do mesmo modo, por causa do pesado fardo que vocês me fizeram carregar no passado, com a s vossas tradições e falsas doutrinas, é que estou constrangido a falar.

Benedito, o frade inquisidor, tendo vindo até ele, começou dizendo que tinha vindo a consolá-lo e a anunciar-lhe a verdade, porém a resposta que não esperava veio imediatamente:

Como você pode falar a verdade, se você vem a mim vestido num hábito de mentiroso? Não posso encontrar a verdade em você, pois não dá para colher figos em árvores de cardos, nem colher uvas em espinheiros.

O padre então retrucou que ele não devia julgá-lo. Ele então respondeu ao padre: “Não sou eu quem o julgo, mas a palavra de Deus e os falsos propósitos que vocês cultivam.”

Depois de ter envergonhado o padre, Barbeville resistiu bravamente às mentiras e às tradições papistas, foi excomungado e declarado herege. Depois da declaração de heresia, o juiz eclesiástico o mandou ajoelhar-se para receber a sentença. Barbeville lhe perguntou, se ele era Deus para ser adorado. O juiz respondeu que era em honra e reverência ao crucifixo que estava pendurado acima dele. Barbeville então disse: “Contudo não o farei, pois assim eu seria um idólatra.”

O juiz foi constrangido a pronunciar-lhe a sentença, estando o réu de pé. Barbeville se animou e alegrou-se por ter podido dar testemunho da sua fé e de ter sido excomungado da igreja dos homens, no entanto, permenecia na Igreja de Cristo.

Depois de sentenciado ele foi entregue as autoridades seculares e trancafiado na prisão do palácio no dia 3 de março. No dia 6 ele foi condenado à fogueira pela Câmara Maior, depois de ter respondido outra vez às autoridades. Mesmo diante da morte ele não manteve a sua boca fechada. Quando podia, instrua os que encontrava na prisão e quando estava sozinho, cantava salmos.

Numa próxima audiência Barbeville estava sentado ao lado de um homem acusado de furto. Ele repreendeu o homem com incisivo zelo, assegurando ao homem que se arrependesse dos seus pecados para receber a remissão em Jesus Cristo. A palavra alcançou o coração daquele homem de tal forma que ele saiu dali para morrer, mas estava consolado e arrependido.

Por volta das 11 horas da noite ele foi levado para a capela para esperar a hora da morte. Finalmente, foi levado para a execução no largo que fica diante do paço municipal em Greve.

A sentença dizia que dele deveria ser amarrado em uma estaca e estrangulado, porém o furor do povo não queria que a pena fosse tão moderada. Dai a turba levantou os feixes de lenha contra ele, até por cima da cabeça, e apressaram o carrasco para o estrangular.

Mesmo numa situação desesperadora como essa, ele não deixou de dar testemunho suficiente e de invocar o nome de Deus. A corda que amarrava suas mãos se rompeu e ele juntando-as, levantava as sua mãos em direção ao Céu, ficando todos os presentes admirados da sua fé. Assim, docemente, sem gritar, ele entregou a sua alma a Deus.


Rev. João d’Eça é Ministro presbiteriano, pastor da Igreja Presbiteriana Betsaida em São Luís, Mestre em Teologia Histórica pelo CPAJ, professor de História Eclesiástica e Antigo Testamento em instituições de ensino teológico.




[1] Jean Morel era crente, ainda muito jovem de menos de vinte anos, e morreu no cárcere envenenado.

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